segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Conhecendo a um "Maestro"

Mesmo com cerca de 12 anos de ayahuasca, sempre fui relutante em procurar por “chamanes” no Peru. O principal motivo é que me soa estranha a abordagem “turística” da ayahuasca que muitas vezes se faz por aquí, principalmente por conta do assédio de milhares de estrangeiros europeus e norte-americanos.
Por esta razao, e para evitar sofrimentos desnecesarios, preferi ficar “na minha” aquí em Pucallpa.
Mas, depois de uma semana de tentativas frustradas de deixar o Ucayalli, mudei de idéia.
Pensei, que se afinal de contas estou aquí, e nao posso sair por razao das chuvas, por que nao entao aproveitar este momento e conhecer um pouco da magia Shipibo, que faz gente de tao longe vir até aquí?

Procurei entao em uma casa de “artesania” no Lago Yarinacocha, recorrendo a quem poderiam aquelas señoras conhecer. Apresentaram-me a um señor de aproximadamente 50 anos, Miguel. Disse-lhe que estava me sentindo um pouco mal de saúde e que necesitava abrir meus caminhos para chegar em casa.

Ele me recebeu muito bem em sua humilde casa. Na verdade um grande salao coletivo, onde vivem seus filhos, com as esposas e netos. Algunas horas antes da cerimonia deu-me uma bebida bem forte: um extrato de plantas medicinais.

Chegada a hora da ceremonia, surpreendeu-me a forma da bebida: praticamente sem cheiro ou gosto, e de uma consistencia bastante apurada. Deu-me uma quantidade pequena, o equivalente a um cálice.
Nao demorou para que comecasse a fazer efeito. Ao som de seus Icaros, a Força a foi chegando. Em dado momento, Dom Miguel pediu-me que me sentasse (estava recostado) e disse: “Si puedes, mira-me”. Fiz o que pediu, embora fosse muito difícil. A Força tornou-se insuportavel. Passei por um sofrimento muito grande, mas a parte de tudo isso, sentia uma total confiança no “Maestro” que conduzia o trabalho.
Enfim, vomitei. Não fora um simples vomito, mas um vomito que limpava os reconditos mais escuros e dolorosos de minha alma. Passei a suar como nunca antes e associei em parte a bebida que havia me administrado horas antes. Sua esposa, com igual competencia, cuidava de mim, com suas maos perfurmadas susteve minha cabeça, e percebi estar diante de pessoas cujo tamanho do conheceimento só podia ser comparado com seu prório amor.

Após vomitar por duas, tres vezes e suar copiosamente, também comecei a escarrar, limpando também os bronquios.

Somente depois disso comecei a mirar. Não foi necessaria uma segunda dose. Aquela pequena quantidade durou por mais de 4 horas. Entrei em um tempo agradável, sentindo fluir em volta de mim um amor e uma luz, uma confiança como munca antes.

Desenhos Shipibo reluziam por todo espaço em nossa volta e percebi se tratar de um povo de ayahuasqueiros milenares. Alegre, Dom Miguel cantava agora a sua esposa, que dançava suavemente ao som de seus Icaros.

Dom Miguel provou diante de meus olhos, de se tratar de um “Maestro” de verdade. Durante toda a ceremonia, nada, exatamente nada, saiu de seu comando. Nenhum som, movimento ou pausa de silencio foi por assim dizer “a toa”.
Tudo ocorreu dentro de uma sincronia perfeita, fruto de uma conexao impecavel, que somente um verdadeiro “Maestro” pode ter.

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