segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Cruzando a Fronteira Impossível


A disposição de tentar cruzar a fronteira de volta para o Brasil através de sua rota mais improvável foi também uma tentativa de mostrar quão absurdo é a condição de estar tão próximo e ainda assim tão longe, de um país vizinho que tem tanto a nos oferecer.
A rota escolhida passava por dois dias de barco subindo o rio Ucayalli até a municipalidade de Bolognesi. Dalí partiria de motocicleta através de uma estrada aberta por madeireiros, até a municipalidade do Breu, ainda em território peruano, mas já em pleno “Vale do Yuruá”.
O que ocorreu foi que a grande falta de informações precisas sobre a rota, acabaram por inviabilizá-la. Enquanto alguns afirmavam ser totalmente possível, outros já desestimulavam a tentativa, por cinta de que as chuvas já haviam começado. Outro problema também é que ainda que a rota apareça nos mapas do Ministério dos Transportes do Peru (UC 105) como uma via estadual, na pratica ela é apenas uma rota de madeireiros que passa por dentro de Terras Indígenas (em sua maioria Ashaninkas peruanos). Em Pucallpa chegava a notícia de que um motociclista australiano teria sido detido pelos indígenas dentro de suas áreas.
Todas estas dificuldades trouxeram aliados inesperados, o “Charapa’s Rally Club”, equipe de motociclistas pucalpinos acostumados a fazer o impossível em termos de motociclismo em terras amazônicas.
Fizemos contato com o engenheiro da empresa madeireira responsável pela rota para que este nos autorizasse a passar. Este apenas nos disse que a autorização caberia na verdade às comunidades indígenas. Entramos em contato com as lideranças através de suas representações na cidade e estes nos expediram uma autorização. Apesar disso, a diretoria da organização através de rádio, obteve a informação de que pelo menos uma das quatro pontes, já estavam cobertas de água, inviabilizando esta rota.
A única alternativa então era então embarcar a motocicleta em um vôo para a municipalidade de Breu, mas dias seguidos de chuva impossibilitavam a aterrissagem de qualquer aeronave na sua pista de terra.
Depois de mais de uma semana de espera, consegui finalmente embarcar a motocicleta e atravessar o Ucaially, passando bem próximo à nascente do rio Yuruá.
No Breu (antigo Tipisca), consegui uma carona até a Foz do Breu, já em território brasileiro e no mesmo dia, um grupo de indígenas Kaxináua que desciam o rio me deram uma carona (inclusive com a moto) até Marechal Thaumaturgo. De lá a moto foi embarcada em um batelão que me trouxe de volta para Cruzeiro do Sul.
Com isso completava uma viagem de mais de 4 mil quilômetros cruzando florestas, montanhas, desertos, conhecendo um país com mais de 5 mil anos de historia, com problemas e contradições muito semelhantes ao Brasil, mas que com certeza também tem muito a ensinar e aprender conosco. Um verdadeiro universo de possibilidades, não apenas de comércio de trocas culturais, de valores, de um povo que tem a nós, brasileiros, em alta estima.


Posso dizer que foi uma verdadeira "viagem sem volta", uma vez que nunca voltei, apenas "dei a volta", completando um circulo mco9mpleto saindo de CZS- Rio Branco - Assis Brasil - Puerto Maldonado - Cuzco - Abancay- Nazca - Lima - La Oroya - Tingo Maria - Pucalpa - Yuruá - Marechal Thaumaturgo - Cruzeiro do Sul.

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